Pais de médico acusado de abuso sexual teriam interferido em processos
Mulher que denunciou o cirurgião em 2001 diz que, se tivessem mantido cassação, ele não teria feito novas vítimas
O SBT teve acesso a documentos que fundamentaram a cassação do direito de exercer a medicina por Klaus Broadbeck, em 2005. A produção solicitou o desarquivamento do processo que o médico moveu contra o Conselho de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) na Justiça Federal. A denúncia que originou a cassação partiu de Louise Leite que tinha 17 anos em 2001 e relatou, à polícia e ao Cremers, abuso sexual no consultório do cirurgião.
"Ele introduziu o dedo na minha boca. Ele fez o movimento de botar e tirar. Eu estranhei, eu parei. Eu não reagi. Logo em seguida, ele tocou nos meus seios", relembra a vítima, que procurou o médico para colocação de próteses de silicone nos seios.
Os documentos mostram os votos dos conselheiros com as justificativas para cassação. "Temos a obrigação, não é o poder, é o dever, de excluir esse médico", escreveu o conselheiro Marco Antônio Becker.
Outro conselheiro relata que procurou médicas e doutorandas que trabalharam com Klaus no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. O objetivo era saber se a denúncia da paciente era plausível com o comportamento do cirurgião, e várias delas confirmaram que sim. Em outra parte, o advogado do Conselho de Medicina do RS revela que pai e mãe de Klaus, ambos médicos de renome no RS, tentaram constranger os conselheiros a absolver o filho da acusação. Essa atitude fez com que diversos conselheiros se declarassem impedidos de julgar.
Com o depoimento da mãe da vítima, que socorreu a menina após ser avisada pelo celular, e considerando o histórico de denúncias que o médico já possuía, tanto na esfera administrativa quanto na policial, o Conselho Regional decidiu pela cassação.
Em recurso no Conselho Federal de Medicina, o relator apontou que Klaus "não passa de um detestável assediador que dera certo até agora". No entanto, o relator foi voto vencido e o médico acabou inocentado pela instância superior, em 2007.
Por este caso, o cirurgião chegou a ser indiciado pela Polícia Civil gaúcha por atentado violento ao pudor, mas acabou absolvido pelo Tribunal de Justiça. Em depoimento, ele alegou que os toques eram parte do procedimento, e que a vítima estava confusa por conta dos sedativos da cirurgia.
"Quantas mulheres estariam ilesas, sem essa marca, sem esse peso, se tivessem ouvido com seriedade o que foi dito?", pergunta a agora advogada Louise.
Em 20 anos, Klaus foi investigado em 23 sindicâncias e processos éticos, mas a maioria terminou com absolvição ou arquivação. Atualmente, o médico está suspenso de forma cautelar.
Para Erial Haro, advogado de defesa do médico, Klaus tem postura técnica e ética ilibada e sempre atendeu suas pacientes de forma tecnicamente correta.
Na última 5ª feira (12.ago), a polícia gaúcha entregou à Justiça 10 inquéritos sobre o cirurgião plástico. Klaus vai responder por estupro, estupro de vulnerável, assédio sexual, violação sexual mediante fraude, importunação sexual e coação. A namorada dele, Amanda Vasconcelos, de 25 anos, foi indiciada por coação e ameaça. Ao todos foram localizadas 127 vítimas do cirurgião.
Em nota, o advogado Diego da Silveira Cabral disse ser muito duvidoso que Klaus tenha abusado de mulheres que continuaram frequentando o consultório e que existe um grupo de mulheres no Instagram e WhatsApp que combinaram os depoimentos. O advogado falou por fim que Klaus nega qualquer delito. Sobre Amanda, o advogado alega que a intenção dela era preservar Klaus.