Doação de leite materno cresce, mas está longe de suprir necessidade
Campanha Agosto Dourado busca promover a conscientização sobre a importância do tema
Agosto é o mês dedicado à conscientização sobre a importância do aleitamento materno. Conhecida como Agosto Dourado, a campanha mundial também resgata a necessidade de doação de leite. Mesmo com a pandemia, o ano passado registrou um leve aumento de 2,7% no volume de leite materno doado, em comparação com 2019. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 182 mil mulheres doaram 229 mil litros de leite, beneficiando 212 mil recém-nascidos. Apesar disso, a quantia doada equivale a apenas 64% da real necessidade do país.
Além da defasagem, há desigualdade no volume de doações para a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH- BR). A região Sudeste registrou, em 2020, o maior número de mulheres doadoras de leite humano, 97,6 mil, bem como foi a região que garantiu o maior estoque de leite humano doado, 130,5 mil litros. Os menores índices de doadoras e volume de leite coletado foram observados na região Norte: 24,3 mil mulheres e 23 mil litros, respectivamente.
O leite materno é um alimento primordial para o desenvolvimento dos bebês, sendo um dos maiores responsáveis pela redução da mortalidade infantil. Para auxiliar cada vez mais mães e crianças nesse contexto, o país disponibiliza uma das maiores redes de bancos de leite humano do mundo, com mais de 200 postos e outros 220 pontos de coleta.
Todos pela amamentação
Coordenadora do Centro de Aleitamento Ana Abrão, Kelly Coca, diz ter percebido uma oferta maior de doadoras neste ano. "O número foi aumentando em 2021. Atualmente, são 39 doadoras do Banco de Leite Humano da Universidade Federal de São Paulo, mas chegamos a ter apenas 12 no fim do ano passado", relembra. Mesmo com a notícia animadora, não são poucos os bancos que continuam sofrendo com a falta de estoque. Para aumentá-los, o governo federal lançou a campanha "Todos pela amamentação", que tem o apoio da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
"A doação é muito importante para ajudar os bebês prematuros a se alimentarem da melhor maneira possível", ressalta a coordenadora e responsável técnica do banco de leite humano de Juazeiro do Norte, Wellinadia Lima. "O leite materno possui mais de 200 substâncias essenciais para o bebê, que se adequam a cada fase do desenvolvimento da criança, além de proteger contra possíveis infecções", explica.
Débora Lowe, criadora de conteúdo, foi mãe de quadrigêmeos prematuros, e os bebês precisaram ser internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal do Hospital São Paulo, onde tiveram que ser alimentados via sonda com o leite materno do banco do hospital. "Cada ml de leite materno doado foi como gotas de milagres para mim", diz Débora. "Chegou um dia que o meu leite secou. E mesmo assim, durante toda a internação dos bebês, nunca faltou leite para eles", completa.
Kelly Coca acrescenta que o Banco de Leite Humano promove ações além da captação de leite. "Vale destacar que o Banco de Leite Humano é um serviço especializado em oferecer ações de apoio, proteção e promoção do aleitamento materno, dedicando-se à assistência ao binômio mãe/bebê durante o processo de amamentação."
Amamentação e covid-19
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que mães que testaram positivo para o novo coronavírus continuem o processo de amamentação normalmente, pois, apesar de o leite possuir pequenas partículas do vírus, elas não são transmitidas e não contaminam a criança. Neste caso, a mulher deve aderir a outros cuidados, como o uso de máscara e a higienização das mãos.
Para as mães já imunizadas contra a doença, a recomendação é a mesma e até mais reforçada, já que a transição dos anticorpos detectados no leite ajuda na imunidade e na proteção da criança.
Toda mulher que estiver amamentando é considerada uma possível doadora de leite humano -- basta estar saudável, ter uma produção excedente de leite e não tomar nenhum medicamento que interfira no processo. Para realizar a doação, é preciso apenas procurar um dos 219 postos de coleta espalhados pelo país.
O leite também pode ser coletado em casa e armazenado em um recipiente de vidro no congelador por até 15 dias antes de ser levado a um dos bancos de coleta.