27 milhões de brasileiros deixaram de comer em algum momento da pandemia
Para pesquisadores, é preciso ampliar as políticas públicas direcionadas à parcela mais pobre da população
Em meio à pandemia, 17% dos brasileiros deixaram de comer em algum momento porque não havia dinheiro para comprar mais comida, o que equivale a 27 milhões de pessoas. Em novembro de 2020, eram 13%. O impacto foi mais grave entre as famílias de classe DE, com 33%. Os dados estão presentes na terceira rodada da pesquisa Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, lançada pelo UNICEF nesta 4ª feira (30.jun). Foram realizadas 1.516 entrevistas em maio de 2021.
A fome não poupou crianças nem adolescentes. Segundo a pesquisa, 13% dos entrevistados que moram com pessoas menores de 18 anos declararam que as crianças e os adolescentes do domicílio deixaram de comer por falta de dinheiro para comprar alimentos. Além disso, metade das famílias com crianças e adolescentes (48%) afirma não ter tido acesso à merenda escolar enquanto as escolas estiveram fechadas. De acordo com o governo do estado de São Paulo, os alunos que não estão tendo aulas presenciais, por conta do rodízio necessário exigido pelo Plano SP, podem ir até a escola para se alimentar, e depois retornar para a casa. As famílias que tiverem possibilidade, devem manifestar interesse dos alunos nas refeições pelo portal da Secretaria Escolar Digital - SED.
Para Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil, a insegurança alimentar tem sido um problema desde o início da pandemia. "É um alerta importante para os impactos profundos que pode ter na saúde de todos, em especial crianças e adolescentes. Uma família que não consegue se alimentar adequadamente está vivendo na mais absoluta privação de direitos. O fechamento prologando das escolas contribuiu ao agravamento dessa situação, muitas crianças e muitos adolescentes dependem da merenda escolar", explica. Um dos caminhos apontados por Florence é ampliar as políticas públicas direcionadas à parcela mais pobre da população, expandindo os programas de proteção social para incluir essas famílias que vivem em situações de exclusão.
Renda das famílias está menor
Mais da metade (56%) dos brasileiros declarou que o rendimento de seu domicílio diminuiu desde o início da pandemia, o que representa cerca de 89 milhões de pessoas. Entre as famílias com crianças ou adolescentes, 64% disseram que a renda diminuiu. As duas taxas são semelhantes às apresentadas na edição anterior da pesquisa, em novembro de 2020.
O estudo ainda revela que entre os mais pobres, a situação se agravou do final de 2020 para o momento atual. Entre novembro de 2020 e maio de 2021, aumentou de 69% para 80% o percentual de famílias com até um salário mínimo que disseram que sua renda diminuiu desde o início da pandemia. Já entre aqueles com renda de mais de dez salários mínimos, o percentual de quem viu a renda diminuir permaneceu estável.
"A pandemia ampliou as desigualdades no Brasil, com impactos preocupantes nas famílias mais pobres, e nas crianças e nos adolescentes que fazem parte delas. Mesmo com o auxílio emergencial, que beneficiou milhões de famílias, a situação prolongada de vulnerabilidade pode ter consequências irreversíveis, principalmente em relação à insegurança alimentar das crianças. É fundamental continuar investindo e reforçar as políticas de transferência de renda, oportunidades de emprego para adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade, reabertura segura das escolas e outras políticas sociais voltadas a essa parcela da população", defende Florence.
"Panela cheia salva"
O projeto Panela Cheia Salva, movimento que une esforços das ONGs Central Única de Favelas (CUFA), Gerando Falcões e Frente Nacional Antirracista está com várias ações para arrecadar alimentos, que serão distribuídos para a população mais vulnerável. A iniciativa foi lançada em abril e já arrecadou R$ 100 milhões. Esse valor foi revertido em cestas básicas para comunidades do país.
Um dos pontos de arrecadação na cidade de São Paulo é o Shopping Pátio Paulista, mas também é possível fazer doações por meio do site. De acordo com o Instituto de Pesquisa Data Favela, ao longo da pandemia, 8 em cada 10 famílias das favelas não teriam se alimentado se não tivessem recebido doações.