Ex-lavrador se forma engenheiro agrônomo aos 73 anos e volta ao campo
Danilo deixou o campo jovem e, agora formado e na terceira idade, voltou para plantar erva-mate
Danilo José Savariz já ostenta as fotos do sonho realizado: a formatura em Agronomia, neste mês de junho. Podia ser só a felicidade de um recém-formado, mas seu Danilo, como ficou conhecido entre os colegas, conseguiu o feito aos 73 anos.
O mais novo agrônomo graduado pela Universidade de Passo Fundo (RS) nasceu em uma família de pequenos agricultores no interior de Santo Ângelo, no norte gaúcho. Da infância pobre, Savariz lembra do grande esforço que fazia para estudar. "Nos primeiros anos, eu andava 12 quilômetros atravessando matas e rios, não tinha roupas adequadas nem sapatos, por isso, os pés congelavam no inverno. Doía tanto que eu me equilibrava sobre madeiras no chão para aliviar a dor", conta7.
A vida difícil na lavoura levou o jovem Danilo a procurar uma formação longe do campo e, com isso, escolheu para primeira graduação a Engenharia Mecânica, com o que trabalhou por mais de 30 anos. A agricultura voltou a ser atividade principal após a aposentadoria. O reingresso no curso superior veio do desejo de entender a própria história, porque nos anos 1960 o campo acabou por espantar as famílias da zona rural. "Eu tinha receio que pudesse haver algum preconceito por parte dos colegas, mas nunca aconteceu", lembra Savariz.
O coordenador do curso, professor Vilson Klein, comenta que foi a primeira vez que a faculdade teve um acadêmico nessa faixa etária. "Foi uma grande alegria receber o Danilo. Foi um entrosamento muito bom, todos gostavam muito dele. Trouxe a vivência dele para dentro do curso. O que separa os nossos alunos jovens do seu Danilo são mais de 50 anos, mas ele soube muito bem se adequar a tudo isso", afirma.
Durante os 5 anos de curso, Savariz se orgulha de não ter perdido nenhuma oportunidade de aumentar os conhecimentos, participou de aulas práticas, viagens de campo, trabalhos em grupo: "Consegui acompanhar muito bem a turma, os jovens me ensinaram muita coisa, principalmente porque eu tinha dificuldade com computação. Eu também ensinei muito eles, nessa parte de saber trabalhar com as pessoas. Explicava que numa empresa precisa saber trabalhar em grupo".
A filha Daniela Savariz é só orgulho dos feitos do pai. "Ele passou muita dificuldade, mas nunca desistiu. A mãe e eu sabíamos do desejo dessa nova graduação e sempre incentivamos muito que ele fizesse. Ele é um exemplo de resiliência."
O agrônomo agora pretende seguir trabalhando com erva-mate na propriedade da família em Erechim (RS). Os planos são de expandir e qualificar a produção, além de incluir o turismo rural como meio de divulgação da cultura ervateira, mas seu Danilo não tem certeza se vai passar muito tempo longe da sala de aula. "Me convidaram para fazer doutorado, eu estou com a cabeça perfeita, mas eu agora quero me dedicar à minha terra e a escrever um livro sobre a minha história", projetou.