Entenda o que provocou a demissão de Ricardo Salles
Ex-ministro foi alvo de operação da PF e é investigado em inquérito; pedido de demissão foi feito nesta 4ª
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pediu demissão do cargo nesta 4ª feira (23.jun) ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O pedido, publicado em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), encerra a gestão que foi marcada por uma série de polêmicas.
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Em dezembro de 2018, Salles foi nomeado por Bolsonaro para comandar o Ministério do Meio Ambiente. À época, a indicação repercutiu negativamente entre ambientalistas -- que não o consideravam adequado para a função -- e na imprensa internacional, que destacou falas proferidas pelo ministro durante o período que ocupava a Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo.
Atualmente, Salles é investigado em duas ações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), sendo uma por suposto envolvimento no esquema de exportação ilegal de madeira e a outra por possível prática de crimes que visavam dificultar a fiscalização ambiental. Ele nega todas as acusações.
Investigações contra Salles
Ricardo Salles é investigado no âmbito da operação Akuanduba, que apura crimes ambientais e exportação de madeira ilegal. O ex-ministro teve os sigilos bancários e fiscal quebrados pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação no STF, que foi deflagrada em 19 de maio.
No início de junho, Salles entregou o celular pessoal -- após 19 dias da deflagração da ação -- para investigação da Polícia Federal. A defesa do ex-ministro alega que o aparelho não havia sido solicitado anteriormente.
O ex-ministro também é alvo de um inquérito -- aberto com autorização da ministra Cármen Lúcia, do STF -- por suspeita de ter dificultado a fiscalização ambiental e de infração que envolve organização criminosa. A decisão da ministra atende a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), feito com base na notícia-crime apresentada contra Salles pelo delegado Alexandre Saraiva, enquanto esteve a frente da Polícia Federal do Amazonas.
A notícia-crime encaminhada pela Polícia Federal resultou na exoneração de Saraiva, que acusou Salles de tentar interferir de forma indevida em uma operação da PF, que apreendeu mais de 200 mil m³ de madeira em toras extraídas ilegalmente por organizações criminosas na região Norte do país.
Recorde de desmatamento na Amazônia
Durante a gestão de Salles foram registradas intensas queimadas no Pantanal e na Amazônia, que chamaram a atenção de diversos líderes mundiais. Também enquanto ele esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente, o desmatamento da Amazônia atingiu o maior nível em 10 anos por três vezes consecutivas.
Segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), apenas em maio de 2021, foram desmatados 1.125 km² da Amazônia Legal - tamanho correspondente ao município do Rio de Janeiro.
"Herança é uma penca de processos"
Durante lançamento do Plano Safra, na 3ª feira (22.jun), em cerimônia no Palácio do Planalto, Bolsonaro voltou a defender Ricardo Salles. Na ocasião, o presidente afirmou que ocupar o ministério de Salles não era uma tarefa fácil. "Muitas vezes, a herança é apenas uma penca de processos. A gente lamenta como somos tratados por alguns poucos desse outro poder, que é muito importante para todos".
O chefe do Executivo nacional ainda parabenizou o ex-ministro. "Prezado Ricardo Salles, você faz parte dessa história. O casamento da Agricultura com o Meio Ambiente foi quase perfeito. Parabéns, Ricardo Salles".
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