Desmatamento da Mata Atlântica cresce em dez estados
São Paulo e o Espírito Santo ultrapassaram 400% de aumento entre 2019 e 2020
Um estudo divulgado nesta 4ª feira (26.mai) aponta que, entre 2019 e 2020, o desmatamento da Mata Atlântica se intensificou em dez dos 17 estados que compreendem o bioma. Apresentaram aumento Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ceará, Alagoas, Rio Grande do Norte, Goiás, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Espírito Santo.
Chama a atenção o aumento visto nos estados de São Paulo e Espírito Santo -- mais de 400% em relação ao período anterior. Na contramão, está o Piauí, que teve uma queda drástica no desmatamento neste último período (-76%). Os dados estão detalhados no Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, organizado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Ao comparar o período 2019-2020 com 2018-2019, houve uma queda de 9% no desmatamento geral. No total, foram desflorestados 13.053 hectares da Mata Atlântica no período de 2019-2020, ante 14.375 hectares entre 2018-2019. "Mesmo que tenhamos uma diminuição de 9% do desmatamento em relação a 2018-2019, ali o aumento havia sido de 30%, então não podemos falar em tendência de queda", explica Luís Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica. "Além disso, no que se refere à Mata Atlântica, 13 mil hectares é muito, porque se trata de uma área onde qualquer perda impacta imensamente a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos", acrescenta.
Apesar do leve recuo no desmatamento de modo geral, existe uma preocupação quanto às regiões que já estiveram bem próximas de zerar o desflorestamento voltando a mostrar aumentos sigificativos, como São Paulo e Espírito Santo. Atualmente, oito dos 17 estados aparecem na condição próxima ao desmatamento zero: Alagoas, Ceará, Goiás, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. No período de 2017-2018 e de 2018-2019 eram nove estados.
Nos estados com a maior parcela de desmatamento do bioma no país, a principal causa ainda é a ocupação agrícola. Já no caso de São Paulo e do Rio de Janeiro, por exemplo, é a pressão imobiliária o grande vetor desse desmatamento.
Para Mario Mantovani, diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, é preciso ampliar a fiscalização e compreender a importância desse bioma não só do ponto de vista ambiental, mas econômico e social: "A Mata Atlântica é muito importante para o nosso dia a dia. Ela garante a qualidade da água que a gente bebe, a fertilidade do solo, um clima melhor. E do ponto de vista econômico, são esses os atributos para uma agricultura saudável e para qualidade de vida das pessoas".
Além de interromper o desmatamento, especialistas defendem que o momento é de restaurar esse bioma."A restauração de ecossistemas é uma solução baseada na natureza para alcançarmos o cenário de redução de 1,5°C de aquecimento global estabelecido no Acordo de Paris. As maiores e mais baratas contribuições que o Brasil pode dar ao combate das mudanças climáticas são as soluções baseadas na natureza. E o caso da Mata Atlântica tem tudo para se tornar uma referência para a proteção e recuperação de florestas tropicais e hotspots ameaçados. Sua restauração geraria benefícios não só para a população e para a economia nacionais, mas para o planeta e para a humanidade como um todo", aponta Guedes Pinto.