Jacarezinho: especialistas criticam ação; PC diz que não houve excesso
Observatórios de Segurança e especialistas discordam de conduta em operação que deixou 25 mortos nesta 5ª
Organizações e especialistas da área de segurança pública discordam da ação policial realizada nesta 5ª feira (6.mai) na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. Uma operação que começou durante a manhã e tinha o objetivo de combater o tráfico de drogas deixou 25 mortos. Um deles, o policial civil André Farias. O confronto se tornou o mais letal da história do Rio de Janeiro.
Durante o dia, representantes da Polícia Civil declararam que, com exceção do policial, as mortes foram de criminosos que recusaram se entregar. O subsecretário operacional da Polícia Civil, delegado Rodrigo Oliveira, afirmou que não houve excesso por parte da polícia: "A polícia atua somente em legítima defesa. Em todos os casos em que houve confrontos dentro de casas, foram casas invadidas por criminosos. Moradores estavam lá inclusive acuados".
Mas especialistas em segurança pública e direitos humanos têm um entendimento diferente da operação. O professor da Universidade de Brasília e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Arthur Trindade, por exemplo, considerou a operação desastrosa. "O número de mortes é alto e a gente não sabe direito quem foram essas pessoas que morreram. Um policial também morreu, o que foi muito grave. E tudo isso para cumprir mandados de prisão. Ao final, foram presas três pessoas e apreendida uma quantidade pequena de armas e drogas. Tudo isso para nada".
"Quando se fala em prender alguns líderes de facções, não se imagina que isso vá ser feito de uma maneira tranquila, que vão se render. Mas certamente uma operação com trabalho de inteligência mais intensivo, que obviamente duraria mais tempo, exigiria mais emprego de pessoal e tecnologia, geraria resultados melhores, com menos mortes e menos pânico", opina Trindade.
A Anistia Internacional Brasil classificou a operação como "lamentável e injustificável", além de apontar violações de direitos humanos na ação policial. "Ainda que todas essas pessoas fossem suspeitas de associação criminosa, o que não está provado, não é justificável esse tipo de execução sumária. Cabe à polícia o poder de prender e à Justiça o dever de processar e julgar os suspeitos de cometer crimes", afirma, em nota, a diretora-executiva Jurema Werneck.
O que dizem outras entidades
A organização Human Rights Watch (HRW) defende que a operação seja investigada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro e questiona o abuso policial. A HRW também destacou perceber, em pesquisas próprias, que há falhas nas investigações de mortes causadas pela polícia do Rio. Nos primeiros três meses deste ano, a polícia carioca matou 453 pessoas e ao menos quatro policiais também vieram a óbito durante as ações, conforme acompanhamento da organização.
A Rede de Observatórios da Segurança, que reúne organizações do setor, classificou a ação como "massacre", e solicitou posicionamento do governador do Rio, Cláudio Castro (PSC) e do Supremo Tribunal Federal (STF). "Moradores tiveram suas casas transformadas em locais de tortura onde pessoas foram executadas", diz trecho de comunicado divulgado pelo observatório.
Em contato com moradores, a organização também apontou uma denúncia: "Quem saía de casa encontrava corpos pelas ruas. Um menino foi executado e colocado sentado numa cadeira de plástico no meio da rua, com dedo na boca, em uma pose de chacota para que todos pudessem ver".
Segundo divulgação do Instituto Igarapé , o impacto social da operação e mortes deve durar anos. O instituto também ponderou que uma operação com o objetivo de combater homicídios, roubos, sequestros e tráficos trouxe como resultado pessoas mortas, feridas e em pânico. E lamentou a ação.